Olho para o relógio e por acaso são 4:20.
Às 4:20, de quase vinte anos atrás, me escondia dos pais.
Hoje eu próprio sou um pai, me escondo dos filhos.
A proibição não permite que eu possa fazer uso da cannabis,
sem criar o problema de ter que explicar para as crianças a licitude dos meus
atos. Quem sabe em alguns anos a coisa mude de figura e eu possa conversar
abertamente sobre o assunto sem que eles me considerem um marginal.
Cada um tem sua história com a cannabis. Da minha
experiência conclui que para aproveitar o que de melhor ela tem a oferecer é
preciso equilíbrio. A bem da verdade, isto não é exclusividade da cannabis:
tudo na vida deve ser equilibrado.
O trabalho deve ser equacionado com o lazer, para que um dê
sentido ao outro e permita que as horas dedicadas a cada uma dessas atividades
sejam aproveitadas com eficiência.
Da mesma maneira, as atividades físicas não prescindem do
repouso. A saúde depende dos dois.
Não acho que com a cannabis a coisa seja diferente. Quando
exagero na dose, sinto que passo do ponto em que obteria seus benefícios e
passo a perceber prejuízos em outras áreas da vida.
Na dose certa, a cannabis aguça a minha sensibilidade para
perceber coisas que passariam despercebidas na confusão do dia-a-dia. Ao me
fazer perceber essas coisas, muda meu pensamento sobre verdades absolutas e
preconceitos. No final, acaba me tornando uma pessoa mais tolerante na vida. A
sociedade agradece.
Quando vou além da dose, essas coisas que antes passavam
despercebidas acabam dominando meu pensamento, ganhando uma importância e
urgência que são irreais dentro do meu contexto de vida. Acabam desviando
demais o foco daquilo que considero o mais importante.
Costumo ter “ondas erradas” em épocas que estou fumando
muito. E nas horas em que não estou chapado, a vida parece meio sem graça.
É aquela história: a diferença entre o remédio e o veneno é
só a dose.
Assim, meu uso da cannabis é religioso (apesar de me
considerar ateu) e medicinal. Mantenho a dose de um baseado por semana, a qual
me parece suficiente para que os demais aspectos da vida não sejam atrapalhados
por ela. A única diferença entre a minha conduta e a de quem opta por tomar um
valium é o fato de que a proibição não permite que eu compre meu remédio na
farmácia.
A minha justa medida é um baseado por semana. Com esta dose,
consigo manter paz de espírito frente às exigências cotidianas. Com um beck por
semana consigo não ficar imobilizado diante das dificuldades da vida ou
empedernido por elas.
Não tenho nenhuma intenção de dizer que você deve fazer do
meu jeito ou de outro. Não tem certo e errado nessa história, existe o que dá
certo para você e o que não dá.
Como disse antes, cada um tem sua história com a cannabis.
Eu só passo falar da minha. Se quiser compartilhar sua experiência, sem moralismo,
poste um comentário abaixo.
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