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Sagan dava uma bola de vez em quando... |
Em 1969, sob o pseudônimo de Mr. X, Carl Sagan escreveu um
depoimento para o livro Marihuana Reconsidered, de Lester Grinspoon, publicado
em 1971.
Após sua morte, seu amigo e autor do livro esclareceu a informação
para seu biógrafo, Keay Davidson. A publicação da biografia de Carl Sagan, em
1999, trouxe a atenção da mídia para esse aspecto pouco conhecido da vida de
Sagan.
Pouco depois de sua morte, sua viúva, Ann Druyan confirmou a
história, doou parte de sua herança ao movimento pró-legalização da cannabis na
Califórnia e se tornou uma das presidentes da NORML, uma fundação dedicada a
reforma das leis sobre maconha.
É bastante interessante observar o pensamento de uma das
mais importantes mentes do século XX acerca dos efeitos da maconha, da influência
da planta em seus trabalhos e da proibição.
Não encontrei na internet, em nenhuma parte, a íntegra deste
ensaio em português, razão pela qual procedi à livre tradução do texto. Como
meus conhecimentos de inglês são relativamente parcos, peço desculpa por
qualquer falha. O texto original pode ser encontrado aqui: http://hermiene.net/essays-trans/mr_x.html
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Aconteceu há cerca de dez anos. Havia chegado a um momento
na vida consideravelmente tranquilo. Começava a perceber que havia mais na vida
além da ciência. Vivia um tempo de despertar de consciência social. Era um
momento em que estava aberto a novas experiências. Era amigo de um grupo de
pessoas que fumava cannabis de forma ocasional, mas com indisfarçável prazer.
Inicialmente eu não pretendia participar de tais eventos,
mas a aparente euforia que a cannabis produzia, aliada ao fato de que não percebia
vício fisiológico na planta, acabaram me convencendo a tentar.
Minhas experiências iniciais foram absolutamente
decepcionantes: não houve efeito algum, com o que comecei a cogitar a hipótese
de a cannabis ter apenas efeito placebo, dependendo mais de sugestão e hiperventilação
que de química.
Todavia, após cerca de cinco ou seis tentativas frustradas,
aconteceu.
Estava deitado na sala de estar da casa de amigos
indolentemente examinando os padrões formados no teto pela sombra de um vaso de
planta (que não era cannabis!).
Subitamente percebi que estava examinando uma intrincada e
detalhada miniatura de um fusca, distintamente desenhada pelas sombras. Estava
bastante cético sobre tal percepção, e tentei encontrar inconsistências entre
fuscas e o que eu vi no teto. Porém, estava tudo lá, desde calotas e placa até
a pequena alça utilizada para abrir o bagageiro.
Quando fechei os olhos, fiquei atordoado ao perceber que passava
um filme debaixo de minhas pálpebras. Lampejo... uma cena rural bucólica com
uma casa de fazenda vermelha, céu azul, nuvens brancas, um caminho sinuoso
amarelo sobre colinas verdes indo até o horizonte.
Lampejo... mesma cena, casa laranja, céu marrom, nuvens
vermelhas, caminho amarelo, campos violetas... Lampejo... Lampejo... Lampejo.
Os lampejos vinham a cada batimento cardíaco. Cada lampejo
trazia à visão a mesma cena bucólica, mas cada vez com diferentes cores...
diferentes e profundas matizes, mas surpreendentemente harmoniosas na justaposição.
Desde então venho fumando ocasionalmente e aproveitando da
melhor forma possível.
A cannabis amplia sensibilidades adormecidas e produz o que,
para mim, são os efeitos mais interessantes, os quais vou explicar sucintamente.
Lembro-me de outra experiência visual com a cannabis, na
qual, observando a chama de uma vela, descobri camuflado no coração do fogo, de
pé com magnífica indiferença, o cavalheiro espanhol de chapéu preto que aparece
no rótulo da garrafa do xerez Sandeman.
Olhar para o fogo entorpecido, aliás, especialmente através
de um caleidoscópio, é uma experiência extraordinariamente bela e comovente.
Devo explicar que, em nenhum desses momentos, pensei que
essas coisas realmente estivessem lá. Eu sabia que não havia fusca no teto ou
sujeito do Sandeman na chama. E nessas experiências não vejo contradições. Há
uma parte de mim criando percepções que, na vida cotidiana, seriam bizarras; há
uma outra
parte de mim que é como se fosse um observador. Cerca de metade do
prazer vem da minha parte observadora apreciando o trabalho da minha parte criadora.
Eu sorrio, ou às vezes até mesmo caio na gargalhada com as imagens dentro das
minhas pálpebras.
Nesse sentido, suponho que a cannabis seja psicotomimética,
mas não sinto nenhum dos pânicos ou terrores que acompanham algumas psicoses.
Possivelmente isto é porque eu sei que aquilo é minha própria viagem e que eu
posso voltar ao normal rapidamente quando quiser.
Enquanto minhas percepções iniciais eram todas visuais e, curiosamente,
carente de imagens de seres humanos, esses dois itens mudaram com o passar dos
anos. Hoje, um simples cigarro é o suficiente para me deixar entorpecido. Testo
se estou entorpecido fechando os olhos e procurando pelos lampejos, que vêm bem
antes de qualquer alteração visual ou em outras percepções. Pensaria que se
trata de um problema de sinal-ruído: o nível de ruído visual estaria muito
baixo com meus olhos fechados.
Outro aspecto teórico interessante é a prevalência – pelo
menos nas imagens lampejantes – de desenhos animados: só os contornos de
figuras e caricaturas, não fotografias. Acho que é uma simples questão de
compressão de informação; seria impossível entender o conteúdo total de
informações de uma fotografia comum (digamos, 108 bits) em uma fração de
segundo, que é o tempo do lampejo. E a experiência do lampejo é projetada (se é
que posso usar esta palavra) para uma apreciação instantânea. O artista e o
espectador são um só.
Isto não significa que as imagens não são maravilhosamente
detalhadas e complexas.
Recentemente vi uma cena na qual duas pessoas estavam conversando
e as palavras que eles estavam dizendo se formavam e desapareciam em amarelo
sobre suas cabeças, em aproximadamente uma frase por batimento cardíaco. Dessa
maneira, era possível acompanhar a conversa. Ao mesmo tempo, de vez em quando,
uma palavra formada por letras vermelhas aparecia sobre suas cabeças no meio
das amarelas, perfeitamente no contexto da conversa; mas lembrando das palavras
em vermelho, elas representavam um conjunto totalmente diferente de declarações,
que seria a percepção do que havia de fundamental na conversa. Todo o conjunto
de imagens que descrevi aqui, de pelo menos 100 palavras amarelas e 10 palavras
vermelhas, durou menos de um minuto.
A experiência com a cannabis aguçou minha apreciação pela
arte, um tema que nunca havia apreciado tanto. O entendimento da intenção do
artista, que consigo alcançar quando estou entorpecido, por vezes continua
quando não estou mais. Essa é uma das muitas fronteiras humanas que a cannabis
me ajudou a atravessar.
Há, também, algumas epifanias relacionadas a arte – não sei
se são verdadeiras ou falsas, mas são divertidas. Por exemplo, passei algum
tempo entorpecido examinando a obra do surrealista belga Yves Tanguey. Alguns
anos mais tarde, após um longo mergulho no Caribe, cheguei exausto a uma praia
formada a partir da erosão de um recife de coral nas proximidades. Contemplando
os fragmentos de coral arqueados que formavam a praia, vi diante de mim uma
vasta pintura de Tanguey. Talvez Tanguey tenha visitado tal praia em sua
infância.
Um apreço muito similar pela música também me foi concedido.
Pela primeira vez fui capaz de escutar os diferentes fragmentos pelos quais uma
harmonia de três partes é formada, além da riqueza do contraponto.
Desde então descobri que os músicos profissionais podem
facilmente tocar muitas partes separadas simultaneamente na sua cabeça, mas
para mim essa foi a primeira vez. Mais uma vez, a experiência de aprendizagem
quando entorpecido migrou, pelo menos até certo ponto, para o meu estado
sóbrio.
A apreciação de comida amplificou-se. Emergem sabores e
aromas que normalmente por qualquer razão parecemos estar demasiado ocupados
para perceber. Posso dar atenção total ao paladar. Uma batata ganha textura,
corpo e sabor como as outras batatas, mas muito mais intensos.
A cannabis também aumenta a apreciação do sexo – provoca uma
sensação única e retarda o orgasmo: em parte distraindo-me com a profusão de
imagens que passa pelos meus olhos. A duração do orgasmo parece aumentar imensamente,
mas isso pode ser a experiência usual da expansão temporal que se dá ao fumar
cannabis.
Em geral não me considero uma pessoa religiosa, mas há um
aspecto religioso em algumas viagens. O aumento da sensibilidade em todas as áreas
me proporcionou um sentimento de comunhão com tudo o que me cerca, sendo seres
inanimados ou não. Às vezes um tipo de percepção existencial do absurdo me
domina e vejo com uma horrível certeza as hipocrisias, minhas e de meus
semelhantes. E em outros momentos há uma diferente sensação de absurdo, uma
consciência lúdica e lunática. Ambos os sentidos de absurdo podem se comunicar
e algumas das viagens mais gratificantes que tive se deram com conversa e partilha
de percepções e humor.
A cannabis nos traz a consciência do que nós gastamos uma
vida inteira sendo treinados para ignorar, esquecer e excluir de nossas mentes.
A sensação de como o mundo realmente é pode ser
enlouquecedora; a cannabis me trouxe alguns sentimentos sobre o que é ser louco
e de como usamos essa palavra "louco" para evitar pensar sobre coisas
que são muito dolorosas para nós.
Na União Soviética dissidentes políticos são rotineiramente colocados
em manicômios. O mesmo tipo de coisa, um pouco mais sutil, talvez, ocorra por
aqui: 'você ouviu o que Lenny Bruce disse ontem? Ele deve ser louco.’
Entorpecido de cannabis descobri que há alguém dentro daquelas
pessoas que chamamos de louco.
Quando estou entorpecido me vejo capaz de penetrar no
passado, recordar memórias de infância: amigos, parentes, brinquedos, ruas, sons
e cheiros de uma área antes esquecida. Posso reconstruir eventos de minha
infância que na época não foram inteiramente compreendidos.
Muitas, mas não todas, viagens de cannabis têm nelas um
simbolismo significativo para mim que não vou tentar descrever aqui. Uma
espécie de mandala. A associação livre a essa mandala, tanto visualmente como
em forma de brincadeiras com as palavras, produziu uma rica série de epifanias.
Há um mito a respeito de tais elevações: o usuário tem a
ilusão de uma grande epifania, mas que não sobrevive ao escrutínio da manhã. Estou
convencido de que este é um erro, e que os insights devastadores alcançados
quando entorpecido são percepções reais; o grande problema é colocar essas
idéias em uma forma aceitável para a pessoa bastante diferente que somos quando
estamos sóbrios no dia seguinte. Alguns dos meus mais árduos trabalhos foram transpor
tais idéias em uma fita ou escrevê-las. O problema é que dez idéias ainda mais interessantes
ou imagens têm de ser perdidas no esforço de uma gravação. É fácil entender
porque alguém pode pensar que é um desperdício de esforço ter todo este
trabalho para trazer o pensamento para a sobriedade, uma espécie de intrusão da
Ética Protestante. Mas, como eu vivo quase toda a minha vida sóbrio, eu fiz tal
esforço – com sucesso, eu acho.
Aliás, acho que as idéias razoavelmente boas
podem ser lembradas no dia seguinte, mas somente se algum esforço tiver sido feito
para trazê-las para a realidade de alguma maneira. Se eu escrever o insight ou
disser a alguém, então eu posso lembrar sem ajuda na manhã seguinte, mas se eu
apenas digo a mim mesmo que eu devo fazer um esforço para lembrar, eu nunca
lembro.
Acho que a maioria das idéias que tenho quando estou entorpecido
concernem a questões sociais, uma área bastante diferente daquela pela qual sou
geralmente conhecido.
Lembro-me de uma ocasião em que, ao tomar um banho com a
minha esposa enquanto entorpecido, tive uma ideia sobre as origens e
invalidades do racismo em termos de curvas de distribuição gaussiana. De certo
modo, foi um ponto óbvio, mas raramente falado.
Desenhei as curvas com sabão na parede do chuveiro e fui
escrever a idéia. Uma idéia levou a outra e, ao final de cerca de uma hora de muito
trabalho duro, descobri que havia escrito onze ensaios curtos sobre uma ampla
gama de temas sociais, políticos, filosóficos, humanos e biológicos. Devido a
problemas de espaço, não posso entrar em detalhes sobre tais ensaios, mas,
considerando todos os sinais externos, tais como reações públicas e comentários
de especialistas, eles parecem conter ideias válidas. Utilizei-os em aulas
inaugurais em universidade, palestras públicas, e em meus livros.
Mas deixe-me ao menos tentar dar o sabor de tal visão e os
seus acompanhamentos. Uma noite, entorpecido, eu estava investigando minha
infância (um pouco de auto-análise) e fazendo o que me pareceu ser o progresso
muito bom. Então parei e pensei quão extraordinário havia sido Sigmund Freud
que, sem ajuda de drogas, foi capaz de alcançar sua própria notável
auto-análise. Mas então me bateu como um trovão que eu estava errado, que Freud
passou a década anterior à sua auto-análise como um experimentador e entusiasta
da cocaína, e pareceu-me bastante evidente que os insights genuínos da psicologia
que Freud trouxe ao mundo foram, pelo menos em parte, derivados de sua
experiência com drogas. Eu não tenho ideia se isso é de fato verdadeiro, ou se
os historiadores de Freud concordariam com esta interpretação, ou mesmo se tal
ideia foi publicada no passado, mas é uma hipótese interessante e que passa no
escrutínio do mundo dos caretas.
Lembro-me da noite em que, de repente, percebi como era ser
louco, ou noites em que meus sentimentos e percepções tiveram natureza religiosa.
Eu tinha um sentido muito preciso que estes sentimentos e percepções, escritos
casualmente, não resistiriam ao escrutínio crítico habitual que é próprio de
meu ofício como um cientista. Se eu encontrar, de manhã, uma mensagem de mim
mesmo a noite, a informar-me que há um mundo ao nosso redor que mal sentimos,
ou que podemos nos tornar um só com o universo, ou mesmo que certos políticos
são homens desesperadamente assustados, eu posso tender a não acreditar; mas quando
estou entorpecido, sei sobre essa descrença. E então tenho uma fita na qual eu
exorto-me a levar a sério tais declarações. Eu digo "Ouça com atenção, seu
filho da puta da manhã! Este material é real!" Tento mostrar que minha
mente está trabalhando bem; eu lembro o nome de um colega de colégio no qual
não pensava há trinta anos; descrevo a cor, a tipografia, e o formato de um
livro que está em um outro cômodo. E estas memórias passam pelo escrutínio
crítico da manhã. Estou convencido de que há níveis de genuína e válida
percepção disponíveis com cannabis (e provavelmente com outras drogas), que
são, devido aos defeitos da nossa sociedade e do nosso sistema educacional, indisponíveis
para nós sem essas drogas.
Tal observação se aplica não apenas à auto-consciência e a
atividades intelectuais, mas também para as percepções a respeito de pessoas
reais, uma sensibilidade muito maior para a expressão facial, entonação e
escolha de palavras que às vezes produz um relacionamento tão próximo que é
como se duas pessoas estivessem lendo as mentes um do outro.
A cannabis permite que não-músicos saibam um pouco sobre
como é ser um músico, e que não-artistas compreendam as alegrias da arte. Mas
não sou nem um artista, nem um músico. E o meu próprio trabalho científico?
Embora me depare uma curiosa indisposição para pensar em questões profissionais
quando estou entorpecido (as aventuras intelectuais atraentes sempre parecem
estar em qualquer outra área) faço um esforço consciente para pensar em
pequenos e correntes problemas particularmente difíceis da minha área. Isto
funciona, pelo menos, em algum nível. Acho que posso sustentar, por exemplo,
uma série de fatos experimentais que parecem ser mutuamente inconsistentes. Até
agora, tudo bem. Pelo menos o “recall” funciona. Em seguida, na tentativa de
conceber uma forma de conciliar tais fatos díspares, acabo chegando a uma
possibilidade muito bizarra, que tenho certeza que eu nunca teria pensado
sóbrio. Já escrevi um artigo que menciona, de passagem, essa ideia. Acho muito
improvável que tais possibilidades sejam verdadeiras, mas elas têm
consequências que são testáveis experimentalmente, o que é a marca registrada
de uma teoria aceitável.
Já mencionei que na experiência com a cannabis há uma parte
de sua mente que continua a ser um observador imparcial, que é capaz de trazê-lo
de volta da viagem depressa, se necessário.
Em algumas ocasiões fui obrigado a dirigir no trânsito
pesado enquanto entorpecido. Consigo administrar tal situação sem nenhuma
dificuldade, apesar de ter alguns pensamentos sobre a cor vermelho-cereja
maravilhosa dos semáforos. Descubro que após dirigir não estou absolutamente entorpecido.
Não há lampejos no interior das minhas pálpebras. Se você está chapado e seu
filho está chamando, você pode respondê-lo da forma tão competente como costuma
fazê-lo. Não defendo a condução quando entorpecido, mas posso dizer por
experiência pessoal, que certamente é possível fazê-lo. Minha viagem é sempre
reflexiva, pacífica, intelectualmente estimulante, e sociável. Ao contrário da maioria
das embriaguezes de álcool, nunca há ressaca.
Através dos anos percebi que pequenas quantidades de maconha
são suficientes para produzir o mesmo grau de torpor, e em uma sala de cinema, recentemente,
descobri que poderia ficar entorpecido apenas pela inalação da fumaça de
maconha que permeava a sala.
Há um aspecto muito positivo na auto-administração de
cannabis. Cada tragada é uma dose muito pequena; o intervalo de tempo entre a inalação
e a sensação de seu efeito é pequeno; e não há desejo de mais após a
instauração da onda. Acho que a razão, R, entre o tempo de sentir a dose tomada
e o tempo necessário para tomar uma dose excessiva é uma grandeza importante. R
é muito grande para o LSD (que eu nunca tomei) e razoavelmente curto para a
cannabis. Pequenos valores de R devem ser uma medida de segurança de drogas psicodélicas.
Quando a maconha for legalizada, espero encontrar esta relação como um dos
parâmetros impresso na embalagem.
Espero que este momento não esteja tão distante; a
ilegalidade da maconha é escandalosa. É o impedimento para a plena utilização
de uma droga que ajuda a produzir a serenidade e discernimento, sensibilidade e
companheirismo, tão desesperadamente necessários neste mundo cada vez mais
louco e perigoso.
Fonte:
Marihuana Reconsidered, Lester Grinspoon, M.D., Harvard University Press
Cambrifge, Massachusetts, 1971, pp. 110-116.